sexta-feira, 6 de agosto de 2010

[Opinião] Porque o Jão não gosta de wRPGs

(Achava essas tags [Análise], [Fraggawagga], [Pinto de Minhoca] [etc] bregas demais, mas acho que elas me são utéis aqui. Apesar de tudo que eu digo nesse blog necessitar de um punhado de sal, nada é certo e acho que sempre tem 99% de chance deu falar besteria, com essa tag de [Opinião] é pior ainda. Não tive o menor cometimento em pesquisa mais extensa, análise justa, imparcial ou mesmo racional. Você foi avisado.)

Meu último post foi sobre uma adaptação de Dungeons and Dragons para Arcade, no final me mostrando surpreendido sobre o quanto o espiríto de um RPG de mesa estava bem transferido num jogo de ação desenfreada. O que me fez pensar sobre a adaptação de RPG para os RPGs eletrônicos e, ultimamente, porque prefiro os jRPGs - onde j está para japanese - em relação aos wRPGs - onde w está para western.

Quanto mais antiga a edição, maior valor tem seu Certificado de Nerd.

Primeiro aquela pergunta mais básica: o que é RPG? Aqui no Brasil, essa pergunta era trazida logo de cara no manual de um dos mais populares (e também criticados, mas não vem ao caso) sistemas de RPG brasileiros, o Defensores de Tóquio Terceira Edição - conhecido como 3D&T. A sílaba é Role Playing Game, ou Jogo de Interpretação de Papéis. É muito parecido com brincar de faz de contas: cada um escolhe um personagem para ser e interpretá-lo, criando suas falas de improviso, tudo na imaginação. A variação de sistema pra sistema costuma ser somente nas regras: regras de criação de atributos e características abstraídas, regras de combate, regras de dano, regras de rolagem de dados - afinal de contas, o que seria de um jogo sem regras? Além dos jogadores, o RPG necessita de um Mestre ou Narrador para situar os jogadores. Ele quem descreve as situações e mapas, controla os NPCs e tudo que não cabe ao jogador definir.

Sim, mulheres jogam RPG! Não, elas não querem ficar com você!

É aí que a transição para qualquer gênero de jogo eletrônico se complica. A natureza original do RPG é expandível e infinita, delimitada somente pela imaginação do grupo. Regras são flexíveis dependendo do julgamento do mestre. O mestre, num jogo eletrônico, é a programação. A programação não é flexível.

Nos primeiros RPGs eletrônicos, nos rogue-like ou nos text adventures - esses mais parecidos com aqueles livros onde dependendo da sua decisão você pula para certa página - o personagem muitas vezes tem bastante espaço para imaginar sobre seus arredores, sobre suas motivações: a história muitas vezes é reduzida ou abstraída - o grande link com os RPGs de mesa é a construção do personagem. Na época onde os gráficos eram mínimos ou ainda caracteres de texto - 99,9% dos rogue-likes apresentam seu personagem como uma "@"- você ainda tinha pouca coisa entre você e o jogo para imaginar a aparência das coisas. Mas muitas das partidas dos jogos de mesa focavam em narrativas e interação entre personagens.


Você é nerd quando sabe que além da "@" ser o personagem, os "d" são algum tipo de cachorro. Você é doente quando sabe que tipo de cachorro é pela cor e posição na dungeon gerada aleatoriamente.

Surgem os jRPGs. Apesar de tecnicamente o primeiro grande representante ter sido Dragon Quest seguido pelo primeiro Final Fantasy, o que nos interessa aqui é Final Fantasy II. O jogo reduz o aspecto "criação de personagem" anterior, dando aos personagens falas e características mais particulares, recebendo em troca a capacidade de explorar melhor as interações entre essas mesmas falas e características e melhor narrativa. Há quem diga que isso reduz em muito o aspecto de imersão e interpretação, tornando menos roleplay e mais somente play. Oras, a narrativa em videogames não é exclusividade dos RPGs. Mas o gênero fez sucesso durante muito tempo, com diversas séries. A série Final Fantasy se tornou quase sinônimo do gênero, inclusive apagando o próprio Dragon Quest no ocidente (se não me engano, Dragon Quest faz mais sucesso no oriente. Posso estar errado). Anos mais tarde, entram os wRPGs.


A arte do japonês Yoshitaka Amano, artista da série Final Fantasy até o sexto título, tinha muito em comum com a arte em voga nos manuais de D&D da época.

Sendo bem sincero, não sei precisar exatamente quando surgem os wRPGs, nem quais seus primeiros exemplares - já que, sinceramente, o gênero nunca me atraiu muito (sim, se você não notou ainda, esse post é muito parcial). Acho que minha primeira imersão mesmo foi em Fable: The Lost Chapters. Mas acho que a série Elder Scrolls tem mais relação com meu desgosto pelo gênero. Enfim, voltando ao assunto, serei o primeiro a dizer que wRPGs são muito mais parecidos com RPGs de mesa. A flexibilidade, opções e imersão são muito mais próximas. Você vai onde quer, faz o que quer e inclusive ataca quem quer - o tipo de coisa típica que personagens/jogadores mais escrotos fazem (sim, Esfregão, se um dia você chegar a ler isso, estou falando de você!). Até a personalização em grande parte desses jogos é maior do que nos jRPGs (embora talvez os sistemas de Jobs de FF, FF III, FF V, FF Tactics Blue Dragon etc sejam de uma customização até maior). O que seria mais próximo de um RPG de mesa do que isso? Até o mundo vasto, menos limitado está presente nesses jogos.

Uau, um mundo imenso pra explorar!....Que preguiça o: *fecha o jogo*

Bom, ainda sinto que o espírito de uma boa partida de D&D está mais presente no jogo de fliperama antes mencionado do que em Oblivion. Se eu soubesse exatamente o porquê, isso não seria um [Opinião] e sim um [Análise], mas sei não. Vou até tentar explicar, mas não esperem muito.

Imagine que você quer jogar um RPG de Senhor dos Anéis. Você preferiria ser um aventureiro que acaba por se unir as tropas de Aragorn na batalha final, ou até mesmo interpretar um dos próprios protagonistas dos livros - ou ser um cara random que chega, mata o Aragorn, estupra a Arwen e tem um filho com o Frodo? Ok, você não precisa tomar essa rota e você pode tomar a primeira rota num wRPG. Mas sei lá, em primeiro lugar, nesse tipo de jogo - como a gente tem saves, rebobina e volta e tudo mais - a segunda opção sempre parece mais colorida. Em segundo, mesmo que você faça a primeira rota, ainda parece algo muito... solitário. Muito... sem propósito. Mais sem propósito até do que descer andar depois de andar de dungeon sem saber exatamente porque você tá fazendo isso como num rogue-like, talvez até por realmente não saber porque eu me sinta mais à vontade do que saber as motivações das quests de Oblivion e achá-las sem graça.

Acho que o ponto chave aqui é uma boa partida de D&D. Claro, você sempre pode jogar uma partida onde o time todo sai destruindo tudo, estupra Arwen etc etc. Aliás, já mestrei partidas pra muitos times assim - são sempre os mais chatos. Uma boa partida tem todo o elemento aleatório da geração da imaginação do mestre, mas também dos interesses e objetivos conflitantes ou não dos jogadores, um senso de aventura presente e talvez até mesmo um senso de progresso - um senso real de progresso, e não algo virtual e arbitrário como "UAU! Agora tenho 27 PVs e BBA +5!". Uma boa partida, acima de tudo, te joga em fantasia. Estimula a imaginação. Uma boa partida é uma experiência única. Não é uma partida que te lembre um jogo de video-game, ou um filme nem uma história em quadrinho. Talvez por isso os ilustradores de fantasia de tão antigamente tinham uma estética tão própria quase perdida.






Talvez realmente você perca toda a liberdade inerente do gênero ao jogar um jRPG ou aquele jogo de fliperama. Talvez o wRPG realmente seja muito mais próximo. Mas, de bom grado, prefiro trocar tal liberdade por uma aventura bem desenvolvida.

Se você gostou do post leia também:

WTF D&D?! - Reviews bem humorados de monstros bizarros dos manuais mais antigos do jogo, que talvez ajudem a entender o espírito da coisa.
O link te leva pro primeiro da série, um arquivo se encontra aqui.

Um comentário:

  1. Poxa, essa idéia de "uau um mundo imenso pra explorar" é justamente o que me inspira a jogar XD
    Deve ser (é pra ser) um negócio meio idealista na minha cabeça, assim, mas me impulsiona mais a terminar o jogo, ou fazer quests (QUE NÃO SÃO SEM GRAÇA NÃO TÁ D:)
    Eu postaria uma opinião minha, mas seria basicamente "blablabla westerns deixam você escolher tudo que faz, jRPGs te travam num personagem superficial", nada que tu já não tenha dito XD

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